Identidade e Autoestima: Quem sou eu?

Identidade e Autoestima: Quem sou eu?

Aquilo que somos, a forma como nos definimos, como nos pensamos e o que sentimos sobre nós, resulta de uma construção contínua que começa na infância. Esta construção envolve uma representação cognitiva e afetiva de nós. A autoestima reflecte esta dimensão afetiva, o grau de satisfação e aprovação que se sentimos por nós.

É importante desenvolver a autoestima?

É essencial. A pessoa com uma boa autoestima é capaz de se apreciar, de aceitar as suas limitações, está atenta a si e cuida das suas necessidades. Na infância e na adolescência ter uma boa autoestima é especialmente importante, estando esta relacionada com o bem-estar e com melhores resultados a nível pessoal, académico e social, e, mais tarde, também a nível profissional. Por outro lado, uma baixa autoestima está relacionada com várias problemáticas (ex., depressão, ansiedade, problemas de comportamento alimentar).

Como se desenvolve a autoestima?

As crianças não nascem com mais ou menos autoestima, esta vai sendo construída ao longo da vida. E começa logo nos primeiros anos, com as primeiras experiências a que o bebé é exposto. A autoestima começa a construir-se a partir das primeiras relações, do ambiente familiar, dos modelos educativos, das expectativas que os familiares têm e comunicam às crianças, das imagens e mensagens que os pais transmitem, direta e indiretamente, aos filhos. É neste contexto de conhecimento mutuo, atenção, amor e interação pais-filhos, que a criança se começa a conhecer, a sentir competente e bem consigo mesma. Assim, se a criança se sentir aceite, valorizada e apreciada terá uma melhor base para a construção da sua autoestima.

A forma como pensamos sobre nós é essencial e vai-se tornando mais complexa e diversificada com o tempo. No início, as crianças começam por ganhar consciência do próprio corpo, de que são um indivíduo separado dos outros. Depois, pensam que são aquilo que são capazes de fazer, bem como aquilo que os outros dizem, desde o nome que lhes dão, à forma como as descrevem. Começam também a integrar na sua autoimagem as memórias que os outros partilham delas, das histórias sobre a infância, sobre como eram e o que faziam. Mais tarde, na adolescência, a forma como se pensam é revista em função das experiências e mudanças vividas nesta fase, em que frequentemente aumenta a necessidade de autoestima, de se sentir valorizado, reconhecido e aceite. Ter uma boa autoestima é um dos recursos mais importantes para um adolescente. Nesta fase é essencial o papel da família, mas também dos amigos e pares, e do ambiente escolar.

**Como promover uma boa autoestima? **

  • Logo desde os primeiros dias desenvolva um sentido de proteção e segurança, que ajude o seu filho a construir confiança em si e no mundo. Seja uma base segura, de conforto e amor incondicional. Procure dar-lhe um sentimento de pertença familiar;
  • Ao longo do tempo ajude-o a sentir-se bem consigo próprio e com as suas capacidades. Dê-lhe tempo e atenção positiva. Deixe que o seu filho se sinta valorizado e especial, partilhe sorrisos, abraços e beijinhos, encante-se com as suas descobertas e conquistas;
  • Deixe que o seu filho se supere, que conquiste desafios. Deixe-o sentir que é capaz de resolver problemas, divida tarefas mais complexas em pequenos passos, proporcione-lhe desafios, encorajando-o a superá-los. Há medida que as crianças vão tendo mais autonomia e fazendo mais coisas sozinhas também se vão sentindo mais capazes e seguras de si o que contribui para a sua autoestima;
  • Ajude-o a dar sentido ao mundo, traduzindo e explicando o que acontece com ele e à sua volta. Ao mesmo tempo seja um modelo de confiança e persistência, fale em voz alta, mostrando como pensa e faz para ultrapassar algumas dificuldades e resolver problemas;
  • Encoraje amizades. Use as brincadeiras como oportunidade para desenvolver confiança e resolver problemas. Deixe que o seu filho lidere as brincadeiras. Tenha paciência e deixe-o repetir as brincadeiras, bem como explorar os seus interesses ao seu ritmo e da sua maneira.
  • Ajude o seu filho a desenvolver a consciência de si. Faça elogios específicos e sinceros, reconheça progressos, esforços e conquistas, saliente pontos fortes. Deixe também que saiba que os erros fazem parte, que ninguém é perfeito;
  • Respeite o temperamento do seu filho, aceitando-o como é. Evite fazer comparações com outras crianças, bem como usar rótulos ou alcunhas que possam restringir a construção de si;
  • Exponha-o à diversidade, ao facto de todos sermos diferentes e únicos. Deixe que o seu filho saiba que o compreende e que as pessoas podem ter diferentes sentimentos e pensamentos. Encoraje o seu filho a pensar e mostre que valoriza a sua a opinião, fazendo-lhe perguntas;
  • Estabeleça rotinas e limites firmes e consistentes, dando-lhe estrutura, segurança e previsibilidade. Repreenda o mau comportamento salientando o comportamento e não a pessoa (ex. “não se bate!” em vez de “és mesmo má!”).

Retirado e adaptado de:

Pawl, J. (2016). Developing Self-Esteem in the Early Years. Zero to Three.

Quiles, M. J., & Espada, J. P. (2009). Educar para a auto-estima. Lisboa: K Editora Lda.

Reichlin, G. & Winkler, C. (2010). O guia de bolso dos pais. Lisboa: Editorial Bizâncio.

Reschke, K. (2019).Who am I? Developing a Sense of Self and Belonging. Zero to Three.

Zero to Three (2010). Developing Self-Confidence From 12–24 Months. Zero to Three.

Zero to Three (2010).Developing Self-Confidence From 24–36 Months. Zero to Three.

Zero to Three (2016). Developing Self-Confidence From Birth to 12 Months. Zero to Three.

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Joana Nunes Patrício

Joana Nunes Patrício

  • Licenciada em Psicologia pelo ISCTE-IUL
  • Mestre em Psicologia Social e das Organizações
  • Participação em projetos de investigação e intervenção social e comunitária na área da proteção a crianças e jovens em risco, na área da parentalidade, e na área da educação.
  • Membro da ISPCAN - International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect

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