Agressividade na primeira infância: Será normal? O que fazer?

Agressividade na primeira infância: Será normal? O que fazer?

Todos nós nos zangamos e vamos aprendendo ao longo da vida a gerir a zanga (uns melhor do que outros…). As crianças pequenas também se zangam. Zangam-se porque não os deixam ter ou fazer o que querem, porque não conseguem fazer determinadas coisas sozinhos, porque estão sempre a dizer-lhes o que fazer, porque lhes tiram um brinquedo, porque se sentem ameaçadas… são vários os motivos pelos quais as crianças se zangam. Uma vez que ainda não sabem processar nem gerir o que estão a sentir, é natural que a zanga possa ser expressa com mais agressividade, com comportamentos como gritar, bater ou morder, entre outros. E é assim, porque as crianças ainda não sabem lidar com emoções fortes e com a frustração, não têm palavras para se exprimir, não têm o auto-controlo desenvolvido, têm comportamentos mais impulsivos. O cérebro da criança não funciona da mesma forma que o do adulto, uma criança é uma criança.

O comportamento agressivo é uma parte normal do desenvolvimento da criança. Nesta idade, as crianças ainda estão a adquirir a linguagem e a capacidade de controlar impulsos e têm um grande desejo de se tornar independentes, o que contribui para que sejam essencialmente físicas nas suas manifestações.

“Algum grau de agressividade (bater e morder) é completamente normal numa criança” (Nadine Block), mas isso não significa que devemos ignorar quando a criança o faz. Certifique-se de que o seu filho sabe que o comportamento agressivo é inaceitável e mostre-lhe outras maneiras de expressar os seus sentimentos.

É natural que o primeiro instinto mais primitivo do seu filho seja bater ou morder quando se sentir ameaçado ou precisar de algo. Ele não entende que é proibido e “errado”. Portanto, tem de ser ensinado.

Também é importante perceber que a criança se pode zangar, deixá-la sentir a zanga faz parte, não temos de evitar, resolver por ela, prevenir e contornar tudo. Se está zangada deixe-a zangar-se! A questão é como. Como é que é aceitável expressar a zanga? Como é que o fazem como pais e adultos? Como acham que a criança o pode fazer? O essencial é orientar sempre o comportamento para que não se magoe nem a si, nem aos outros.

Todos se zangam de vez em quando, mas os outros não têm culpa, pense e leve a criança a pensar o que pode então fazer para não magoar os outros com a sua zanga (ex. saltar no chão, apertar algo com força, dar uma corrida, respirar fundo, cantar, fazer coisas que o deixam feliz). Se for uma criança com um nível maior e mais frequente de agressividade é necessário supervisionar com mais atenção, para ajudá-la a gerir os impulsos que ainda não consegue controlar sozinha.

O que pode fazer?

  • Mantenha-se calmo. Gritar, bater, morder de volta, ou dizer ao seu filho que ele é mau não vai trazer mudanças positivas – até o pode deixar mais irritado ou dar-lhe exemplos de coisas novas para tentar. Por outro lado, mostrar-lhe controlo ajuda-o a perceber que ele também se pode controlar.
  • Estabeleça limites claros. Responda imediatamente sempre que o seu filho for agressivo. Diga “não se bate” e retire-o da situação (i.e., afaste-o, sente-o noutro sitio) por um breve momento (um ou dois minutos é o suficiente), no qual não tem a sua atenção. Isso dá-lhe tempo para se acalmar e, com o tempo e consistência, ele vai associar o comportamento às consequências e descobrir que, se bater ou morder, fica fora da ação e não tem atenção, o que poderá reduzir este comportamento.
  • Se os “beijos” se transformarem em mordidelas, por exemplo, tire-o do colo dizendo com firmeza: “não se morde”. Certifique-se também de que não está a recompensar inadvertidamente o seu filho por morder, dando-lhe muita atenção nesse momento. Se o seu filho morder outra criança, concentre a sua atenção na criança ferida – a atenção (mesmo que negativa) à criança que morde pode funcionar como reforço para fazê-lo novamente.
  • Reforce o bom comportamento. Em vez de dar atenção ao seu filho apenas quando ele se está a portar mal, dê atenção quando ele se porta bem. Por exemplo, se ele pedir ou esperar para dar uma volta no baloiço em vez de empurrar outra criança, elogie-o por verbalizar seus desejos e por esperar pela sua vez. Reforce o bom comportamento com o elogio e brincando com ele. Com o tempo, ele perceberá como falar e ter comportamentos positivos é benéfico.
  • Dê consequências lógicas. Por exemplo, se o seu filho começar a atirar brinquedos às outras crianças, retire-o imediatamente da brincadeira. Sente-se com ele a observar as outras crianças a brincar, e explique que pode voltar quando estiver pronto para se divertir sem magoar as outras crianças.
  • Evite dar sermões ou tentar argumentar com seu filho. É provável que ele ainda não seja capaz de se colocar no lugar da outra criança ou de mudar o seu comportamento com base no raciocínio verbal. Mas ele pode entender as consequências.
  • Discipline de forma consistente. Tanto quanto possível, responda a cada episódio da mesma maneira todas as vezes. Uma resposta previsível estabelece um padrão que o seu filho eventualmente aprende a reconhecer e esperar. Com o tempo, vai perceber que, se ele se portar mal, haverá consequências.
  • Ensine alternativas. Espere que o seu filho se acalme e, em seguida, analise com calma o que aconteceu. Se ele já se conseguir expressar pergunte-lhe se pode explicar o que aconteceu e o que poderia ter feito diferente. Se não, pode tentar interpretar e dizer-lhe o que poderia fazer (ex. “querias brincar com o carro que tinha o João e ficaste zangado, da próxima vez, em vez de bateres podes pedir-lhe o carro e esperas pela tua vez ou procuras outro brinquedo para brincar”).
  • Enfatize (brevemente!) que é natural ter sentimentos de raiva, mas não é certo demonstrá-los batendo ou mordendo. Incentive o seu filho a encontrar uma maneira mais eficaz de responder, como usar palavras para se expressar ou pedir ajuda a um adulto. Há medida que ele for crescendo vá incentivando “usa as palavras para dizeres o que queres”.
  • Incentive a pedir desculpa ou a reparar o que fez depois de agredir alguém. O pedido de desculpas até pode não ser sentido no início, mas, eventualmente, acabará por ser e por interiorizar esta aprendizagem. Também pode incentivar a reparar o que fez (ex. voltar a construir a torre de blocos do amigo, ou ajudar a tratar uma ferida), mas tenha atenção para que esta reparação não seja reforçadora do comportamento.
  • Se o seu filho parece gostar de morder, explique que morder magoa e experimente dar ao seu filho uma alternativa para morder, seja a chucha, roupa, um “colar para morder” …
  • Esteja atento ao que o seu filho vê na televisão. Os desenhos animados ou jogos que ele vê podem ter conteúdos mais agressivos (gritos, ameaças, lutas). Escolha conteúdos apropriados para a idade, especialmente se seu filho parecer propenso a um comportamento agressivo. Converse com ele sobre como os personagens resolvem conflitos e pense em maneiras melhores de resolvê-los.
  • Mantenha o seu filho ativo. Dê oportunidades ao seu filho para gastar energia, de preferência ao ar livre.
  • Procure ajuda se precisar. Às vezes, o nível de agressão de uma criança é maior do que um pai consegue suportar ou gerir. Fale com o médico do seu filho, com a educadora ou procure ajuda de um psicólogo. Juntos, podem determinar a origem do problema de comportamento e ajudar o seu filho a superá-lo.

Referências: Leach, P. My toddler bites. Should I bite back? Baby Center Reichlin, G. & Winkler, C. (2010). O guia de bolso dos pais. Lisboa: Bizâncio Stewart,D. Aggression, hitting, and biting (ages 12 to 36 months). Baby Center

Joana Nunes Patrício

Joana Nunes Patrício

  • Licenciada em Psicologia pelo ISCTE-IUL
  • Mestre em Psicologia Social e das Organizações
  • Participação em projetos de investigação e intervenção social e comunitária na área da proteção a crianças e jovens em risco, na área da parentalidade, e na área da educação.
  • Membro da ISPCAN - International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect

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